RETORNO E REPETIÇÃO
CONVERSA ENTRE DOIS TRABALHOS DE RENATO REZENDE E KATIA MACIEL
KM: O seu vídeo Eu não faço ideia do que um poeta seja mostra um poeta em exercício, em movimento de inspiração escolar, não apenas pela forma lembrar a repetição para a melhora da caligrafia, mas a repetição como movimento escolar, e o poema que afirma a impossibilidade de se definir o poeta. A poesia aparece na sua própria repetição...
RR: Esse vídeo é muito simples, conceitualmente, mas creio que traz muitos elementos interessantes, que levantam questões. A questão da repetição, que você menciona, pode ser uma delas. Não sei se um poeta se repete, ou se todos se repetem sempre. Eu, por exemplo, sinto que, por um lado, me repito pouco, procurando sempre diferentes formas de enunciação, transformando constantemente minha linguagem, de um trabalho para outro; e, por outro lado, sou angustiadamente repetitivo, insistindo sempre nas mesmas teclas, nas mesmas questões, que são as que me movem e me afligem. Nesse sentido, acho que todo artista é repetitivo, todo artista tem, no fundo, duas ou três questões apenas, que explora ao máximo em suas obras. A questão da repetição tem a ver também, evidentemente, com o eterno retorno do sintoma, e eu acho que podemos fazer uma leitura da arte a partir dessa abordagem. Ao contrário de trabalhos em vídeo como Ímpar ou Tango, mais complexos, em Eu não faço ideia do que um poeta seja tenho intenções bem mais modestas, pouco metafísicas, quase circunstanciais. O poeta, como num castigo escolar, repete o verso uma infinidade de vezes, até que, supõe-se, aprenda a lição. Ao mesmo tempo, o verso e o gesto afirmam algo, insistentemente, de forma desafiadora: quem, afinal, sabe o que é um poeta? O vídeo está inserido num contexto de crítica que eu faço à crítica de poesia no Brasil, e também a uma série de poetas-críticos, que no momento atual ainda julgam saber o que é poesia, sentem-se donos de uma verdade formal, ainda muito voltados para uma tradição modernista, bastante superada, a meu ver. Essa superação do modernismo rumo a um momento mais contemporâneo, de campos e enunciações mais ampliados, é mais produtiva no Brasil nas artes visuais do que na poesia, daí também a ironia de produzir o poema em vídeo, e de considerar o vídeo como poema, pois essa proposição apenas já desmonta um discurso que situa o poema exclusivamente em contexto livresco. O poeta está de castigo, e é obrigado a repetir que ele não sabe quem é. Mas quem o colocou de castigo? É lógico que, para além dessa questão política, podemos, a partir dessa obra, levantar questões mais transcendentais, tipo o que é um poeta e qual sua função etc., e pensarmos na busca de algum tipo de resgate ou gesto inaugural; busca essa, indagação essa, que nunca se completa, resolve ou responde, confundindo-se com a própria absurdidade da condição humana; e daí, então, o caráter repetitivo e interminável do vídeo. Em Eu não faço ideia do que um poeta seja, portanto, a repetição ganha um caráter urgente e angustiado, diferente do que sinto acontecer na sua bela videoinstalação Vulto, onde a imagem de seu corpo em movimento pendular, em meio a um ambiente natural, parece indicar uma marcação de tempo como repetição imensurável (mas não interminável, como no eterno retorno), e em constante devir...
KM: No meu trabalho, como repetição registro o retorno do tempo. Há uma mudança que opera nos dois sentidos da ação. Em Vulto, a imagem mostra a operação de ida e volta de uma ação ou alteração do estado de um objeto. Com a repetição, o fim é o começo e o começo, o fim. Repetir faz ver o que há e não é visto. No seu trabalho, embora a repetição estruture o seu videopoema, você não cria um loop para torná-la infinita, mas caminha para um fim, em um fade out que encerra o movimento da escrita no final da página. Os recursos da linguagem videográfica que você utiliza com muita parcimônia, com uma câmera que opera na simplicidade do puro registro, acompanham o poema como uma pontuação. O poema então é vídeo e o vídeo, poema, na dicção da escrita em movimento...
RR: A denominação “videopoema”, como outras denominações que se referem aos produtos híbridos ou interdisciplinares da arte contemporânea, é um tanto vaga e carece talvez de um rigor categórico; no entanto, creio que cabe com justiça ao meu trabalho Eu não faço ideia do que um poeta seja. Ao contrário de Vulto, como os outros da série Suspense, que eu considero um poema em absoluto, ou seja, completamente articulado em um medium não verbal, que é o vídeo, e, portanto, um legítimo representante da videopoesia, pensada como poesia em campo ampliado, o Eu não faço ideia do que um poeta seja é de fato um videopoema, ou seja, de certa forma, um poema em vídeo, algo escrito e representado, ou traduzido, em vídeo. Evidentemente, não quero dizer que o considero fraco, ou que o uso do vídeo seja aleatório ou anedótico ― não é ―, ou que vídeo e palavra sirvam aqui de ilustração um do outro. Quis justamente ressaltar os recursos de linguagem mais simples dessas duas técnicas, para que o encontro entre ambas, apenas resvalado, pudesse criar uma faísca tímida, mas perceptível. E foi justamente para melhor explorar esses dois registros, que, a meu ver, em Eu não faço ideia do que um poeta seja singram lado a lado, dialogando entre si de forma paralela, que escolhi não usar o loop, muito comum em trabalhos em vídeo, que lidam com a temporalidade, para demarcar algo da ordem das limitações do espaço: o trabalho termina, como uma folha de papel (que, aliás, é filmada e serve de suporte à escrita que se dá, registrada pelo vídeo), ou uma página chega ao fim. Nesse sentido, me interessa a concepção de Vulto, a partir de dois elementos, vamos dizer assim, “semânticos”, que me chamaram atenção: o fato de a ação se dar em meio à natureza e o fato da figura feminina (você) estar de costas para o espectador.
KM: Estar de costas para o espectador é de alguma maneira estar de frente para a natureza. Estou atada por nós ao balanço do ar nas árvores que me sustentam. Em outros vídeos e instalações, como o Mareando, Ondas: Um dia de nuvens listradas vindas do mar ou Arvorando a posição do espectador diante da imagem repete a mesma situação do vídeo, na minha presença ou ausência. Implicar o espectador no que se vê é muitas vezes estrutural à obra, e isto não se deve apenas a circunstâncias que podem ser interativas, mas à própria construção da imagem e a sua disposição no espaço instalado. Sempre me senti observada pelas imagens, fossem elas pinturas, fotografias, ou mesmo em movimento. Produzir imagens é retornar ao ver e ser visto, desviando e distorcendo essa operação sensível, simbólica e estética. Vulto é um modo de repetir o infinito no corpo. O vídeo em loop mostra o movimento pendular do meu próprio corpo suspenso, pendurado por um fio em uma árvore. A floresta e a névoa tornam a imagem mistério e suspense na medida em que não sabemos o que acontece; ao mesmo tempo em que esperamos que algo aconteça. Vulto é o acontecimento por vir, a imagem por vir, um infinito fim. A condição da repetição na maioria dos meus trabalhos é de fazer o tempo resistir ao tempo, neste caso o loop nunca é uma figura anexa, mas a própria essência do trabalho poético que opera na imagem. Em Meio cheio, meio vazio entorno a água de uma jarra em um copo que permanece sempre pela metade. O instante é duração e o loop é portanto expressão, o que passa e não passa é fluxo. O paradoxo contido nesse trabalho é o do tempo, o dado constante e inconstante da vida. Em Timeless mostro uma ampulheta que verte a areia nas duas direções em um tempo que não passa com o movimento. Variação e não variação na duração e na repetição. Como duração, a imagem se estende como um instante que permanece porque não passa nunca, insiste. O registro de uma ação em loop implica ligar as bordas do tempo criando um infinito presente. Mas a imagem não é puro efeito, ela é o registro do que nela se pensa e o que se pensa é o que há na variação que não varia, ou o que varia na não variação, no paradoxo da ação e do sentido...
CONVERSA ENTRE DOIS TRABALHOS DE RENATO REZENDE E KATIA MACIEL
KM: O seu vídeo Eu não faço ideia do que um poeta seja mostra um poeta em exercício, em movimento de inspiração escolar, não apenas pela forma lembrar a repetição para a melhora da caligrafia, mas a repetição como movimento escolar, e o poema que afirma a impossibilidade de se definir o poeta. A poesia aparece na sua própria repetição...
RR: Esse vídeo é muito simples, conceitualmente, mas creio que traz muitos elementos interessantes, que levantam questões. A questão da repetição, que você menciona, pode ser uma delas. Não sei se um poeta se repete, ou se todos se repetem sempre. Eu, por exemplo, sinto que, por um lado, me repito pouco, procurando sempre diferentes formas de enunciação, transformando constantemente minha linguagem, de um trabalho para outro; e, por outro lado, sou angustiadamente repetitivo, insistindo sempre nas mesmas teclas, nas mesmas questões, que são as que me movem e me afligem. Nesse sentido, acho que todo artista é repetitivo, todo artista tem, no fundo, duas ou três questões apenas, que explora ao máximo em suas obras. A questão da repetição tem a ver também, evidentemente, com o eterno retorno do sintoma, e eu acho que podemos fazer uma leitura da arte a partir dessa abordagem. Ao contrário de trabalhos em vídeo como Ímpar ou Tango, mais complexos, em Eu não faço ideia do que um poeta seja tenho intenções bem mais modestas, pouco metafísicas, quase circunstanciais. O poeta, como num castigo escolar, repete o verso uma infinidade de vezes, até que, supõe-se, aprenda a lição. Ao mesmo tempo, o verso e o gesto afirmam algo, insistentemente, de forma desafiadora: quem, afinal, sabe o que é um poeta? O vídeo está inserido num contexto de crítica que eu faço à crítica de poesia no Brasil, e também a uma série de poetas-críticos, que no momento atual ainda julgam saber o que é poesia, sentem-se donos de uma verdade formal, ainda muito voltados para uma tradição modernista, bastante superada, a meu ver. Essa superação do modernismo rumo a um momento mais contemporâneo, de campos e enunciações mais ampliados, é mais produtiva no Brasil nas artes visuais do que na poesia, daí também a ironia de produzir o poema em vídeo, e de considerar o vídeo como poema, pois essa proposição apenas já desmonta um discurso que situa o poema exclusivamente em contexto livresco. O poeta está de castigo, e é obrigado a repetir que ele não sabe quem é. Mas quem o colocou de castigo? É lógico que, para além dessa questão política, podemos, a partir dessa obra, levantar questões mais transcendentais, tipo o que é um poeta e qual sua função etc., e pensarmos na busca de algum tipo de resgate ou gesto inaugural; busca essa, indagação essa, que nunca se completa, resolve ou responde, confundindo-se com a própria absurdidade da condição humana; e daí, então, o caráter repetitivo e interminável do vídeo. Em Eu não faço ideia do que um poeta seja, portanto, a repetição ganha um caráter urgente e angustiado, diferente do que sinto acontecer na sua bela videoinstalação Vulto, onde a imagem de seu corpo em movimento pendular, em meio a um ambiente natural, parece indicar uma marcação de tempo como repetição imensurável (mas não interminável, como no eterno retorno), e em constante devir...
KM: No meu trabalho, como repetição registro o retorno do tempo. Há uma mudança que opera nos dois sentidos da ação. Em Vulto, a imagem mostra a operação de ida e volta de uma ação ou alteração do estado de um objeto. Com a repetição, o fim é o começo e o começo, o fim. Repetir faz ver o que há e não é visto. No seu trabalho, embora a repetição estruture o seu videopoema, você não cria um loop para torná-la infinita, mas caminha para um fim, em um fade out que encerra o movimento da escrita no final da página. Os recursos da linguagem videográfica que você utiliza com muita parcimônia, com uma câmera que opera na simplicidade do puro registro, acompanham o poema como uma pontuação. O poema então é vídeo e o vídeo, poema, na dicção da escrita em movimento...
RR: A denominação “videopoema”, como outras denominações que se referem aos produtos híbridos ou interdisciplinares da arte contemporânea, é um tanto vaga e carece talvez de um rigor categórico; no entanto, creio que cabe com justiça ao meu trabalho Eu não faço ideia do que um poeta seja. Ao contrário de Vulto, como os outros da série Suspense, que eu considero um poema em absoluto, ou seja, completamente articulado em um medium não verbal, que é o vídeo, e, portanto, um legítimo representante da videopoesia, pensada como poesia em campo ampliado, o Eu não faço ideia do que um poeta seja é de fato um videopoema, ou seja, de certa forma, um poema em vídeo, algo escrito e representado, ou traduzido, em vídeo. Evidentemente, não quero dizer que o considero fraco, ou que o uso do vídeo seja aleatório ou anedótico ― não é ―, ou que vídeo e palavra sirvam aqui de ilustração um do outro. Quis justamente ressaltar os recursos de linguagem mais simples dessas duas técnicas, para que o encontro entre ambas, apenas resvalado, pudesse criar uma faísca tímida, mas perceptível. E foi justamente para melhor explorar esses dois registros, que, a meu ver, em Eu não faço ideia do que um poeta seja singram lado a lado, dialogando entre si de forma paralela, que escolhi não usar o loop, muito comum em trabalhos em vídeo, que lidam com a temporalidade, para demarcar algo da ordem das limitações do espaço: o trabalho termina, como uma folha de papel (que, aliás, é filmada e serve de suporte à escrita que se dá, registrada pelo vídeo), ou uma página chega ao fim. Nesse sentido, me interessa a concepção de Vulto, a partir de dois elementos, vamos dizer assim, “semânticos”, que me chamaram atenção: o fato de a ação se dar em meio à natureza e o fato da figura feminina (você) estar de costas para o espectador.
KM: Estar de costas para o espectador é de alguma maneira estar de frente para a natureza. Estou atada por nós ao balanço do ar nas árvores que me sustentam. Em outros vídeos e instalações, como o Mareando, Ondas: Um dia de nuvens listradas vindas do mar ou Arvorando a posição do espectador diante da imagem repete a mesma situação do vídeo, na minha presença ou ausência. Implicar o espectador no que se vê é muitas vezes estrutural à obra, e isto não se deve apenas a circunstâncias que podem ser interativas, mas à própria construção da imagem e a sua disposição no espaço instalado. Sempre me senti observada pelas imagens, fossem elas pinturas, fotografias, ou mesmo em movimento. Produzir imagens é retornar ao ver e ser visto, desviando e distorcendo essa operação sensível, simbólica e estética. Vulto é um modo de repetir o infinito no corpo. O vídeo em loop mostra o movimento pendular do meu próprio corpo suspenso, pendurado por um fio em uma árvore. A floresta e a névoa tornam a imagem mistério e suspense na medida em que não sabemos o que acontece; ao mesmo tempo em que esperamos que algo aconteça. Vulto é o acontecimento por vir, a imagem por vir, um infinito fim. A condição da repetição na maioria dos meus trabalhos é de fazer o tempo resistir ao tempo, neste caso o loop nunca é uma figura anexa, mas a própria essência do trabalho poético que opera na imagem. Em Meio cheio, meio vazio entorno a água de uma jarra em um copo que permanece sempre pela metade. O instante é duração e o loop é portanto expressão, o que passa e não passa é fluxo. O paradoxo contido nesse trabalho é o do tempo, o dado constante e inconstante da vida. Em Timeless mostro uma ampulheta que verte a areia nas duas direções em um tempo que não passa com o movimento. Variação e não variação na duração e na repetição. Como duração, a imagem se estende como um instante que permanece porque não passa nunca, insiste. O registro de uma ação em loop implica ligar as bordas do tempo criando um infinito presente. Mas a imagem não é puro efeito, ela é o registro do que nela se pensa e o que se pensa é o que há na variação que não varia, ou o que varia na não variação, no paradoxo da ação e do sentido...
Originalmente publicado em MACIEL, Katia; REZENDE, Renato. Poesia e videoarte. Rio de Janeiro: Funarte/Circuito, 2012.
Renato Rezende é poeta, artista, curador e editor.
RETURN AND REPETITION
DIALOGUE BETWEEN TWO WORKS BY RENATO REZENDE AND KATIA MACIEL
KM: Your video Eu não faço ideia do que um poeta seja [I Have no Idea What a Poet is] shows a poet doing a school-inspired exercise, not only because the form resembles the repetition involved in the improvement of calligraphy, but repetition as a school activity, and the poem affirms that it is impossible to define a poet. Poetry emerges from its own repetition...
RR: Conceptually, the video is very simple, but I think it brings many interesting elements that raise questions. The question of repetition, which you mention, can be one of them. I don’t know whether a poet repeats himself, or if he always repeats himself; I, for example, feel that, on the one hand, I seldom repeat myself, always looking for different forms of enunciation, constantly transforming my language, from one work to the next; and, on the other hand, I am distressingly repetitive, always insisting on the same questions that drive and trouble me. In this sense, I think artists are always repetitive, deep down they have only two or three questions that they explore to the maximum in their works. The question of repetition also has to do, of course, with the eternal return of the symptom, and I think we can interpret art based on this approach. Unlike video works such as Ímpar or Tango, that are more complex, in Eu não faço ideia do que um poeta seja my intentions are much more modest, metaphysical, almost circumstantial. The poet, as if he were undergoing a school punishment, endlessly repeats the verse until he supposedly learns the lesson. At the same time, the verse and the gesture affirm something, insistently and defiantly: who, after all, knows what a poet is? The video is part of a context of a criticism I make to the poetry critique in Brazil, and also to a series of poets-critics, who currently still think they know what poetry is, they feel they possess a formal truth, still very focused on a modernist tradition that has already been overcome, in my opinion. This overcoming of modernism towards a more contemporary moment, of more expanded fields and enunciations, is more productive in Brazil in the visual arts than it is in poetry, hence also the irony of producing the poem in a video, and of regarding the video as a poem, since this proposition alone already dismantles the discourse that places the poem in an exclusively bookish context. The poet is being punished, forced to repeat that he doesn’t know who he is. But who punished him? It is obvious that, beyond this political question, we can, based on this work, raise more transcendental questions, like what a poet is, what his function is, etc., and think of the search for some kind of redemption or inaugural gesture; a search and questioning that can never be completed, solved or answered, confusing itself with the very absurdity of the human condition; hence the repetitive and interminable character of the video. In Eu não faço ideia do que um poeta seja, therefore, repetition gains an urgent and distressing character, different from what I feel happened in you beautiful video installation Vulto, where an image of your body in a pendular motion in a natural setting seems to indicate a sort of timekeeping as an immeasurable repetition (but not interminable, like in eternal return), and in a constant state of becoming...
KM: In my work I capture the return of time as repetition. There is a change that operates in both meanings of the action. In Vulto, the image shows the coming and going of an action or change of state of an object. With repetition, the end is the beginning and the beginning is the end. Repetition makes one see what exists and cannot be seen. In your work, although repetition gives a structure to your video-poem, you create a loop to make it infinite, but you aim for an ending, in a fade out that puts and end to the act of writing at the end of the page. The videographic language techniques, that you use very sparingly, with a camera that simply records something, accompany the poem like a punctuation. So the poem is a video and the video, a poem, with the diction of the act of writing...
RR: The term “video-poem,” like other terms referring to hybrid or interdisciplinary contemporary art products, is somewhat vague and perhaps lacking in categorical rigour; however, I believe it is appropriate to Eu não faço ideia do que um poeta seja. Unlike Vulto, like other works from the series Suspense, which I regard as a poem, that is, completely articulated in a non-verbal medium, video, and therefore a legitimate representative of video-poetry, though as poetry in an expanded field, Eu não faço ideia do que um poeta seja is indeed a video-poem, that is, in a way, a poem in video form, something written and interpreted, or translated, into video. Evidently, I do not mean to say that I consider it weak, or that the use of video is random or anecdotal ― it is not ― or that video and words serve to illustrate one another. I wanted to emphasise the simplest language features of both techniques, so that the brief encounter between the two could create a timid but noticeable spark. And it was precisely to better explore these two forms of communication that, in my view, in Eu não faço ideia do que um poeta seja they navigate side by side, conversing with one another in a parallel way, that I chose not to loop the video, which is very common in time-based works of this kind, to demarcate something akin to limitations of space: the work ends, like a sheet of paper (which is filmed and is the support of the writing which appears in the video), or a page that comes to an end. In this sense, I am interested in the conception of Vulto, through two “semantic” elements, so to speak, that stood out: the fact that the action takes place in the midst of nature, and the fact that the female figure (you) has her back to the viewer.
KM: Being with my back to the reader somehow means facing the natural setting. I am tied up, swinging in the air among the trees from which I am suspended. In other videos and installations, like Mareando, Ondas: Um dia de nuvens listradas vindas do mar or Arvorando, the viewer’s position in relation to the image repeats the same situation of the video, in my presence or absence. Involving the viewer in what is seen is often a structural part of the work, and this is not only due to circumstances that may be interactive, but the very construction of the image and the way it is arranged in the installation’s space. I always felt observed by the images, either paintings, photographs or even moving images. Producing images is going back to seeing and being seen, diverting and distorting this sensory, symbolic and aesthetic operation. Vulto is a way to repeat infinity in the body. The looped video shows the pendular motion of my own suspended body, hanging from a rope tied to a tree. The forest and the fog make the image mysterious and suspenseful insofar as we do not know what is happening; at the same time in which we expect something to happen. Vulto is the event to come, the image to come, an infinite ending. The condition of repetition in most of my works is to make time resist time, in this case the loop is never an attached figure, but the very essence of the poetic work that operates in the image. In Meio cheio, meio vazio [Half Full, Half Empty] I pour water from a jug into a glass that remains half full. The instant is duration and looping is therefore expression, what goes through and does not go through is a flow. The paradox contained in this work is time, the constant and inconstant given of life. In Timeless I show an hourglass in which sand trickles in both directions in a time that does not pass through movement. Variation and non-variation in duration and repetition. As duration, the image is extended as an instant that remains because it never passes, insistent. Capturing an action in loop implies connecting the two edges of time creating an infinite present. But the image is not a mere effect, it is a record of what one thinks of it and what one thinks is what exists in the image’s unvarying variation, or what varies in nonvariation, in the paradox of the action and its meaning.
Originally published at MACIEL, Katia; REZENDE, Renato. Poesia e videoarte. Rio de Janeiro: Funarte/Circuito, 2012.
Renato Rezende is a poet, artist, curator and editor.
DIALOGUE BETWEEN TWO WORKS BY RENATO REZENDE AND KATIA MACIEL
KM: Your video Eu não faço ideia do que um poeta seja [I Have no Idea What a Poet is] shows a poet doing a school-inspired exercise, not only because the form resembles the repetition involved in the improvement of calligraphy, but repetition as a school activity, and the poem affirms that it is impossible to define a poet. Poetry emerges from its own repetition...
RR: Conceptually, the video is very simple, but I think it brings many interesting elements that raise questions. The question of repetition, which you mention, can be one of them. I don’t know whether a poet repeats himself, or if he always repeats himself; I, for example, feel that, on the one hand, I seldom repeat myself, always looking for different forms of enunciation, constantly transforming my language, from one work to the next; and, on the other hand, I am distressingly repetitive, always insisting on the same questions that drive and trouble me. In this sense, I think artists are always repetitive, deep down they have only two or three questions that they explore to the maximum in their works. The question of repetition also has to do, of course, with the eternal return of the symptom, and I think we can interpret art based on this approach. Unlike video works such as Ímpar or Tango, that are more complex, in Eu não faço ideia do que um poeta seja my intentions are much more modest, metaphysical, almost circumstantial. The poet, as if he were undergoing a school punishment, endlessly repeats the verse until he supposedly learns the lesson. At the same time, the verse and the gesture affirm something, insistently and defiantly: who, after all, knows what a poet is? The video is part of a context of a criticism I make to the poetry critique in Brazil, and also to a series of poets-critics, who currently still think they know what poetry is, they feel they possess a formal truth, still very focused on a modernist tradition that has already been overcome, in my opinion. This overcoming of modernism towards a more contemporary moment, of more expanded fields and enunciations, is more productive in Brazil in the visual arts than it is in poetry, hence also the irony of producing the poem in a video, and of regarding the video as a poem, since this proposition alone already dismantles the discourse that places the poem in an exclusively bookish context. The poet is being punished, forced to repeat that he doesn’t know who he is. But who punished him? It is obvious that, beyond this political question, we can, based on this work, raise more transcendental questions, like what a poet is, what his function is, etc., and think of the search for some kind of redemption or inaugural gesture; a search and questioning that can never be completed, solved or answered, confusing itself with the very absurdity of the human condition; hence the repetitive and interminable character of the video. In Eu não faço ideia do que um poeta seja, therefore, repetition gains an urgent and distressing character, different from what I feel happened in you beautiful video installation Vulto, where an image of your body in a pendular motion in a natural setting seems to indicate a sort of timekeeping as an immeasurable repetition (but not interminable, like in eternal return), and in a constant state of becoming...
KM: In my work I capture the return of time as repetition. There is a change that operates in both meanings of the action. In Vulto, the image shows the coming and going of an action or change of state of an object. With repetition, the end is the beginning and the beginning is the end. Repetition makes one see what exists and cannot be seen. In your work, although repetition gives a structure to your video-poem, you create a loop to make it infinite, but you aim for an ending, in a fade out that puts and end to the act of writing at the end of the page. The videographic language techniques, that you use very sparingly, with a camera that simply records something, accompany the poem like a punctuation. So the poem is a video and the video, a poem, with the diction of the act of writing...
RR: The term “video-poem,” like other terms referring to hybrid or interdisciplinary contemporary art products, is somewhat vague and perhaps lacking in categorical rigour; however, I believe it is appropriate to Eu não faço ideia do que um poeta seja. Unlike Vulto, like other works from the series Suspense, which I regard as a poem, that is, completely articulated in a non-verbal medium, video, and therefore a legitimate representative of video-poetry, though as poetry in an expanded field, Eu não faço ideia do que um poeta seja is indeed a video-poem, that is, in a way, a poem in video form, something written and interpreted, or translated, into video. Evidently, I do not mean to say that I consider it weak, or that the use of video is random or anecdotal ― it is not ― or that video and words serve to illustrate one another. I wanted to emphasise the simplest language features of both techniques, so that the brief encounter between the two could create a timid but noticeable spark. And it was precisely to better explore these two forms of communication that, in my view, in Eu não faço ideia do que um poeta seja they navigate side by side, conversing with one another in a parallel way, that I chose not to loop the video, which is very common in time-based works of this kind, to demarcate something akin to limitations of space: the work ends, like a sheet of paper (which is filmed and is the support of the writing which appears in the video), or a page that comes to an end. In this sense, I am interested in the conception of Vulto, through two “semantic” elements, so to speak, that stood out: the fact that the action takes place in the midst of nature, and the fact that the female figure (you) has her back to the viewer.
KM: Being with my back to the reader somehow means facing the natural setting. I am tied up, swinging in the air among the trees from which I am suspended. In other videos and installations, like Mareando, Ondas: Um dia de nuvens listradas vindas do mar or Arvorando, the viewer’s position in relation to the image repeats the same situation of the video, in my presence or absence. Involving the viewer in what is seen is often a structural part of the work, and this is not only due to circumstances that may be interactive, but the very construction of the image and the way it is arranged in the installation’s space. I always felt observed by the images, either paintings, photographs or even moving images. Producing images is going back to seeing and being seen, diverting and distorting this sensory, symbolic and aesthetic operation. Vulto is a way to repeat infinity in the body. The looped video shows the pendular motion of my own suspended body, hanging from a rope tied to a tree. The forest and the fog make the image mysterious and suspenseful insofar as we do not know what is happening; at the same time in which we expect something to happen. Vulto is the event to come, the image to come, an infinite ending. The condition of repetition in most of my works is to make time resist time, in this case the loop is never an attached figure, but the very essence of the poetic work that operates in the image. In Meio cheio, meio vazio [Half Full, Half Empty] I pour water from a jug into a glass that remains half full. The instant is duration and looping is therefore expression, what goes through and does not go through is a flow. The paradox contained in this work is time, the constant and inconstant given of life. In Timeless I show an hourglass in which sand trickles in both directions in a time that does not pass through movement. Variation and non-variation in duration and repetition. As duration, the image is extended as an instant that remains because it never passes, insistent. Capturing an action in loop implies connecting the two edges of time creating an infinite present. But the image is not a mere effect, it is a record of what one thinks of it and what one thinks is what exists in the image’s unvarying variation, or what varies in nonvariation, in the paradox of the action and its meaning.
Originally published at MACIEL, Katia; REZENDE, Renato. Poesia e videoarte. Rio de Janeiro: Funarte/Circuito, 2012.
Renato Rezende is a poet, artist, curator and editor.